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segunda-feira, 19 de março de 2012

DECISÕES

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido. Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número ( unzinho e eu ganhava a sena acumulada ), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste... 
Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz aliás, o nome do bar é Imaginário, sentou um cara do meu lado direito e se apresentou: 
- Olá, eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo. 
Ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo e eu lhe pergunto: 
- Porque? Sua vida não foi melhor do que a minha? 
- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei a seleção...fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia... 
- Eu sei, eu sei... disse alguém sentado ao lado dele. 
Olhamos para o intrometido. Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou: 
- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista. 
- Como é que você sabe? 
- Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um herói, me atirei e aí levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante... 
- Ele chutaria para fora. 
Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou. 
- Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou... fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio: 
- E o que aconteceu? perguntamos os três em uníssono. 
- Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris? 
- Você... 
- Morri com 28 anos. 
Bem que tínhamos notado sua palidez... pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo...e ter levado o chute na cabeça... 
- Foi melhor, continuou, ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado... 
Quando de repente alguém sentado a minha esquerda disse: 
- Você deve estar brincando! 
Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado. Perguntei: 
- Quem é você? 
- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público. 
Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra. As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. 
Comentei com o barman que, no fim era quem estava com o melhor aspecto, ali... estupefato vi que era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas. 
- Quem é você? Perguntei. 
- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice. 
- E? 
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo ... 
Nesta crônica temos uma visão da nossa vida e indecisões.... 
Sua vida não é a decisão que você não toma, ou a atitude que você não teve. Sua vida é o seu conjunto de escolhas. E ela está no presente, no aqui, no agora... Por isso, saiba aproveitar o presente, ouça os seus desejos mais íntimos e realize-os... Assim, você não terá que se arrepender amanhã e não terá nenhum sósia seu andando cabisbaixo e frustrado por ai. Você será único, vivendo de acordo com seus desejos, com sua autenticidade, errando e acertando...mas será genuinamente você! 


Autor não mencionado. 

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